quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Barra do Dande


Todos os dias lamento a falta da câmera fotográfica, porém não vale a pena continuar a chorar sobre o leite derramado, corro o risco de ficar chato e os poucos leitores deste blog vão acabar por trocá-lo pelo do Miguel Sousa Tavares (!)
Seguindo para Bingo!!! Barra do Dande é uma aldeia piscatória a 52 kms de Luanda, como o próprio nome indica fica no estuário do Rio Dande, que por sua vez se localiza a norte do Rio Bengo.
Confesso que agora estou localizado geográficamente, mas quando saímos com o Ângelo a conduzir andámos umas horas perdidos porque este lembrou-se de ir em direcção ao Caxito (sentido Este, logo afastando-se do litoral), quem não sabe é como quem não vê. GPS aqui não tem utilidade e os mapas não têm estradas.
Partindo do Cacuaco (dista uns 20 kms) a estrada é muito boa (a sério) depois há um cruzamento onde entramos numa picada mas que está com melhoramentos, vulgo a ser alcatroada. Parte do percurso já se faz em alcatrão, penso que em breve (até ao final do Verão que agora começa) deve estar concluido o troço e aí sim via aberta para a Barra do Dande.
Não querendo fazer futurologia em breve teremos alí uma zona turística de eleição, são kms e kms de areal e palmeiras. Aqui e alí já aparecem pequenos empreendimentos rústicos de apoio ao banhista, era precisamente a um desses que nos destinávamos, eu o Juca e o Ângelo num Feriado (dia do herói nacional, Agostinho Neto, poeta e 1º presidente de Angola) um pouco encoberto mas cuja temperatura convida a um mergulho.
Mas chegados lá, surpresa das surpresas, estava fechado...para desinfestação! OK! E agora tou cheio de fome?
-"Aqui não há nada, vamos á aldeia pode ser que nos safemos!"-atira o Juca não muito convencido do que estava a dizer.
Lá fomos e a boa surpresa, não há alternativa mas, um restaurante improvisado com mesas e cadeiras bastante concorrido, alguns portugueses a deliciarem-se com lagostas e peixes grelhados. Vamos nessa eu não fico é sem comer.
Quando digo improvisado digo mesmo improvisado, tudo é na rua, as mesas e a cozinha ficam debaixo de uma cobertura em madeira, "tecto" a palha á frente os "fogões" que não passam de grelhadores com carvão, tudo a grelhar e num deles uma panela enorme que vim a saber, trata-se do feijão.
As mesas têm pratos, talheres e guardanapos de papel, toalhas de tecido. Menú: Lagosta, Corvina ou Linguado. Optámos os três por linguado, para beber venham já três Cucas (cerveja local) que a sede aperta.
O serviço foi rápido, de guarnição veio o tal feijão branco da panela, banana pão, mandioca, farinha de mandioca e batata doce.Os linguados de bom tamanho estavam deliciosos. Despejámos mais umas Cucas e no final pedimos a conta, porque café ou sobremesa está fora de coagitação, não há condições para tal.
Mas balanço final, muito bom, comidinha da terra, tudo limpinho, ambiente afável e preço muito em conta, cerca de 1500 kuanzas a cada um (uns 12€). Comi melhor que em Luanda e muito mais barato. Até pela proximidade, vou ficar cliente!
Ah, esquecia-me dos miúdos a pedir "gasosa", hoje não tiveram sorte.
Depois do almoço, voltamos á base. Mergulho adiado para o fim de semana, á tarde em algumas zonas a praia torna-se desagradável com pessoas que bebem demais e como não tinhamos outra referência para além daquela resolvemos não arriscar.
No cruzamento para a Barra do Dande há sempre polícia, o truque é não olhar para eles, para lá funcionou, na volta não vimos nada mas lá ouvimos o homem a apitar e o Ângelo parou um pouco mais á frente.
-"Boa tarde senhor condutor, nós somos da DEFA (Imigração) levamos a cabo uma acção de fiscalização, vou pedir-vos os vossos documentos."
Fiquei positivamente surpreendido coma correcção e a educação do agente da autoridade, verificou as cópias autenticadas dos passaportes (andamos com cópias auenticadas por questão de segurança), fez apenas uma referência á fraca legibilidade dos documentos e mandou-nos seguir. Muito diferente das histórias que se ouvem de fraca credibilidade das autoridades de Angola e da sua apetência para pedirem a bela da "gasosa" que no mínimo são 2000 kuanzas.
Segundo o Ângelo tivemos sorte porque este não é do trânsito, é da imigração e têm outro comportamento, caso contrário o que poupámos no almoço teriamos de aliviar na sobremesa eheheheh!
Vamos descansar um pouco, amanhã é dia de trabalho e o Ângelo volta ao Lubango, terá o Adilson como companheiro, mas a viagem será de carro, cruzar o país de carro ainda vai demorar umas boas horas.

Façam boa viagem...

3 comentários:

Anónimo disse...

Cada dia uma aventura e a descrição dos acontecimentos é perfeita. Você escreve muito bem, parabéns! Estarei sempre por aqui para conhecer um pouco mais sobre a África.

Unknown disse...

O meu amigo esta em grande!
Um abraço
Pedro Portugal.

Henrique disse...

Grande Pedro, tu é que havias de cá estar, fazias grandes negócios