sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mergulhando em Angola

Dizer que este é um país de contrastes já é um lugar comum. Arrisco-me até a ser nadinha original, no entanto não é a originalidade que procuro. Os contrastes de que falo, não são no entanto os sociais ou estruturais muito propalados em toda a comunicação social, nacional e internacional sendo aliás do domínio público mundial. Refiro-me concretamente aos contrastes físicos das maravilhosas fauna e flora que se podem encontrar aqui em Angola.


Começo a estender-me um pouco mais sobre o território. Aproveitando a companhia e a experiência local de um casal amigo, Francisco e a Isaura, contando naturalmente com o companheiro Juca (nomes fictícios) partimos para um dia diferente, sem praia e com mais 800 kms de estrada, nem sempre alcatroada e muitas vezes quase intransitável.


Confesso que parti sem ter conhecimento do trajecto, demonstrando total confiança nos "guias". Desde logo beneficiei la liberdade de não conduzir podendo assim assimilar todos e quaisquer pormenores sempre deliciosos, sempre surpreendentes.


Saídos do Cacuaco em direcção a Luanda, depois para sul no sentido da ponte do rio Kwanza. Primeira paragem no Miradouro da Lua, poucos kms após sair de Luanda ponto de paragem obrigatório para nos deliciarmos com uma paisagem de escarpas fantástica com uma altura estonteante. Incrível o que o poder da natureza é capaz, neste caso uma demonstração do que a erosão pode fazer, parece desenhado e pintando em vários tons de terra. Seguindo o caminho, deixamos para trás Sangano, Cabo Ledo em direcção a Porto Amboin, uma cidade piscatória e de salinas, muito bonita com areal claro e mar bem azul, digno de uma qualquer praia nas caraíbas. O cheiro a peixe seco é forte, muito comum no país dada a dificuldade de outras formas de conservação.


Deixamos Porto Amboin em direcção ao Sumbe, uma outra cidade igualmente costeira mas de maior dimensão, bastante populosa e um ponto de passagem obrigatório para quem atravessa o país.
Até aqui a paisagem é dominada pela orla costeira, em termos de vegetação aqui e alí uns imbondeiros (alguns enormes, seculares), a linda árvore que caracteriza pitorescamente esta parte do país.









Só por si o percurso efectuado até aqui já é de beleza inquestionável, mas mal sonhava com o que aí vinha!!!!
A direcção do percurso altera-se no sentido Este, destino Gabela. A estrada deixa de ser o tapete que até aqui vínhamos galgando, está em obras de melhoramento e alterna pedaços de alcatrão com kms e kms de picada, mas não das piores.
Justifica-se nova paragem, junto á cachoeira da Binga. Em África encontram-se das quedas de água mais exuberantes do planeta, Angola tem a bênção de nos poder brindar com momentos assim, de rara beleza. A cachoeira da Binga não é muito grande mas a força de suas águas impõe respeito e respira beleza, é uma das várias quedas de água protagonizadas pelo rio Keve.




Continuamos o percurso em direcção á Gabela, sentido Este e claramente subindo em altura relativamente ao mar, nota-se no ar, na temperatura e principalmente na vegetação, a fantástica flora vai-se alterando radicalmente, agora mais de acordo com a cerrada selva africana, muito verde e uma variedade sem fim de árvores e arbustos altos.













Entrámos na Gabela, nunca imaginei possível o que encontrei nesta encantadora cidade. Simplesmente indescritível, nem a objectiva do grande jornalista Luís Castro (autor da foto ao lado) consegue captar o misto de sensações que acabava de provar.
Ficamos com a sensação de ter entrado numa máquina do tempo e aterrado algures nos anos 60, é isso que a cidade da Gabela parece, parece saída dos anos 60 e de facto assim é. Em Luanda e ao que sei em muitas outras cidades do país é comum vermos construções dos tempos coloniais, muitas delas em mau estado de conservação, destruídas pela guerra. Na Gabela há uma verdadeira cidade do tempo colonial, construída pelos colonos portugueses, mas pela qual a guerra não parece ter passado, embora as construções pareçam um pouco desprezadas, na sua maioria com falta de pintura, mantêm-se intactas, com as cores da época, até os espaços comerciais com as designações escritas manualmente....um prato cheio, deslumbrei-me, vou voltar decerto para fotografar.
Da Gabela para regressar ao Cacuaco sabíamos da existência de uma estrada em direcção ao Dondo, depois ao Kifangondo mas ninguém a tinha cruzado, fizemos votos no sentido de democraticamente decidirmos se voltávamos pela cidade ou partíamos á aventura, não será difícil adivinhar que a opção foi improvisar. Começámos por dar boleia a um senhor á borda da estrada, na esperança que nos ajudasse no caminho, logo a seguir apareceu outro e outro. é comum vermos pick ups com mais de uma dezena de pessoas na "caixa". Levámos 3 tripulantes, e deixámos os ditos pelo caminho onde desejaram, o último saiu na Quibala. O percurso da Gabela até lá é terrível, a picada é "dolorosa", mas o que a rodeia de uma beleza fantástica, cores e cores, sempre diferentes, caracterizam um paisagem incaracterística onde trocámos os imbondeiros pelas mangueiras e acácias. Não posso deixar de fazer referência ás abundantes rochas de formato arredondado que nos "acompanham" todo o caminho. Dão um toque de originalidade e encanto ao percurso.
Seguimos Quibala, Dondo, Catete, Kifangondo e finalmente Cacuaco onde já chegámos bem de noite por volta das 21h.
Foi uma viagem cansativa mas encantadora do ponto de vista da beleza paisagística e das sensações que provoca a quem a contempla.
Será o início de uma paixão?
Confesso-me muito entusiasmado e sedento de mais...
P.S.: Faço referência ao facto das fotos não serem de minha autoria, são tiradas aleatoriamente na net para ilustrar melhor o que pretendo mostrar, mas espero em breve poder mostrar as minhas verdadeiras fotos.
P.S. 2: De futebol...não estou com vontade de falar!!!! Sabem onde fica Atenas?

2 comentários:

José Sousa disse...

Gostei do que li. Omeu coração bateu forte e os olhos deixaram escapar umas lágrimas. Foi aqui, nas redondezas da cidade da Gabela que vivi dos 9 aos 22 anos. O meu corpo está em Portugal mas o meu coração ficou lá. Amo Angola, o Quanza Sul, a Gabela e o meu povo, meus amigos do Lundo.
Um grande abraço para quem me reconhecer. Vai a

Henrique disse...

Obrigado pelo comentário José, espero que possa voltar um dia para rever e voltar a sentir o cheiro de África.

Abraço